Boas notícias para a caça à vida alienígena: oceanos podem ser comuns em exoplanetas gelados

 

Muitos exoplanetas podem ter oceanos sob suas conchas geladas, como a lua de Júpiter Europa, vista aqui pela espaçonave Galileu da NASA. (Crédito da imagem: NASA/JPL-Caltech/SETI Institute)

Uma nova análise de exoplanetas sugere que há uma chance muito maior do que se pensava anteriormente de esses mundos abrigarem água líquida, um ingrediente essencial para a vida na Terra.

O universo poderia, portanto, ser preenchido com mais planetas habitáveis do que os cientistas acreditavam anteriormente, com uma chance maior de esses mundos possuírem ambientes nos quais a vida alienígena poderia se desenvolver, mesmo que tenham conchas externas geladas.

"Sabemos que a presença de água líquida é essencial para a vida. Nosso trabalho mostra que essa água pode ser encontrada em lugares que não tínhamos considerado muito", disse a líder da pesquisa e cientista da Universidade Rutgers, Lujendra Ojha, em um comunicado. "Isso aumenta significativamente as chances de encontrar ambientes onde a vida poderia, em teoria, se desenvolver."

Ojha e seus colegas descobriram que mesmo exoplanetas com superfícies congeladas poderiam ter oceanos subterrâneos de água líquida.

"Antes de começarmos a considerar essa água subsuperficial, estimava-se que cerca de um planeta rochoso [em] cada 100 estrelas teria água líquida", explicou Ojha. "O novo modelo mostra que, se as condições forem adequadas, isso pode se aproximar de um planeta por estrela. Então, temos 100 vezes mais chances de encontrar água líquida do que pensávamos."

Como há cerca de 100 bilhões de estrelas na Via Láctea, "isso representa chances muito boas para a origem da vida em outros lugares do universo", acrescentou.

Como mundos gelados poderiam segurar a água líquida

Os pesquisadores investigaram planetas encontrados ao redor do tipo mais comum de estrelas em nossa galáxia, as anãs vermelhas, que são menores e mais frias que o Sol. Não só as anãs vermelhas, também conhecidas como anãs-M, constituem cerca de 70% das estrelas da Via Láctea, mas também são as estrelas em torno das quais a maioria dos mundos rochosos semelhantes à Terra foram encontrados.

A equipe considerou duas maneiras pelas quais planetas rochosos com uma concha gelada poderiam ser aquecidos por baixo, permitindo que eles mantivessem água líquida subterrânea, a primeira das quais é evidente aqui na Terra.

"Como terráqueos, temos sorte no momento porque temos a quantidade certa de gases de efeito estufa em nossa atmosfera para tornar a água líquida estável na superfície. No entanto, se a Terra perdesse seus gases de efeito estufa, a temperatura média da superfície global seria de aproximadamente 18 graus Celsius negativos, e a maioria das águas líquidas superficiais congelaria completamente", explicou Ojha. "Alguns bilhões de anos atrás, isso realmente aconteceu em nosso planeta, e a água líquida superficial congelou completamente. No entanto, isso não significa que a água era completamente sólida em todos os lugares."

A água líquida foi preservada naquele momento da história da Terra pelo aquecimento na forma de radioatividade das profundezas do planeta.

"O calor da radioatividade nas profundezas da Terra pode aquecer a água o suficiente para mantê-la líquida", disse Ojha. "Ainda hoje, vemos isso acontecendo em lugares como a Antártida e o Ártico canadense, onde, apesar da temperatura gelada, há grandes lagos subterrâneos de água líquida, sustentados pelo calor gerado pela radioatividade."

O pesquisador disse que há evidências que sugerem que o aquecimento via radioatividade também pode estar acontecendo atualmente perto do polo sul de Marte.

"Modelamos a viabilidade de gerar e sustentar água líquida em exoplanetas orbitando anãs-M considerando apenas o calor gerado pelo planeta", disse Ojha. "Descobrimos que, quando se considera a possibilidade de água líquida gerada pela radioatividade, é provável que uma alta porcentagem desses exoplanetas possa ter calor suficiente para sustentar água líquida – muito mais do que pensávamos."

Ilustração artística da espaçonave Europa Clipper da NASA voando acima da gelada lua de Júpiter Europa. (Imagem: NASA/JPL-Caltech)

Outro possível mecanismo de aquecimento que poderia ajudar a manter a água líquida abaixo de uma camada planetária congelada sugerido pela equipe surge como resultado da influência gravitacional de um corpo maior, fazendo com que o interior de um mundo aparentemente congelado gire infinitamente. Isso também é algo que é evidente em outras partes do nosso sistema solar.

"Algumas das luas que você encontra no sistema solar, por exemplo, Europa ou Encélado, têm água líquida subterrânea substancial, embora suas superfícies estejam completamente congeladas", apontou Ojha, referindo-se às luas geladas de Júpiter e Saturno, respectivamente.

"Isso ocorre porque seu interior é continuamente agitado pelos efeitos gravitacionais dos grandes planetas que orbitam, como Saturno e Júpiter", acrescentou. "Isso é semelhante ao efeito da nossa lua nas marés, mas muito mais forte."

Esse efeito não apenas tornou Europa e Encélado os principais candidatos a encontrar vida em outros lugares do sistema solar, mas também tem implicações para ambientes de manutenção da vida em mundos que orbitam outras estrelas.

A Nasa explorará em breve pelo menos um mundo de gelo, embora dentro dos limites do sistema solar: sua sonda Europa Clipper está programada para ser lançada em direção ao sistema jupiteriano em 2024 e chegar seis anos depois.

Abel Méndez, diretor do Laboratório de Habitabilidade Planetária da Universidade de Porto Rico, não esteve envolvido na nova pesquisa, mas comentou as implicações de suas descobertas.

"A perspectiva de oceanos escondidos sob mantos de gelo expande o potencial de nossa galáxia para mundos mais habitáveis", disse Méndez. "O grande desafio é descobrir maneiras de detectar esses habitats por telescópios futuros."

A pesquisa da equipe foi publicada recentemente na revista Nature e será apresentada por Ojha na conferência de geoquímica Goldschmidt, em Lyon, na França, que acontece de domingo (9) a 14 de julho.

Traduzido e adaptado de Space.com

Por Roberto Leão

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