Esta famosa pintura de Van Gogh apresenta uma física surpreendentemente precisa

 

 (Wikimedia Commons, domínio público)

Criada pelo pintor holandês Vincent van Gogh em 1889, A Noite Estrelada é uma das obras mais intrigantes que o mundo da arte já produziu. Além de ser incrivelmente evocativa, o céu agitado e ondulante parece sugerir um entendimento detalhado da física da turbulência.

Agora, uma nova análise aprofundada confirma isso. As pinceladas na obra-prima de van Gogh são consistentes com a dinâmica dos fluidos da atmosfera terrestre – e, possivelmente, do Universo em geral.

“A pintura revela um entendimento profundo e intuitivo dos fenômenos naturais”, diz o físico Yongxiang Huang, da Universidade de Xiamen, na China.

“A representação precisa da turbulência por van Gogh pode vir do estudo do movimento das nuvens e da atmosfera, ou de um senso inato de como capturar o dinamismo do céu.”

Geralmente, não conseguimos ver com nossos olhos, mas a atmosfera da Terra é uma massa fluida em constante movimento e mudança. As nuvens podem revelar essa atividade contínua, mas uma compreensão íntima da turbulência atmosférica geralmente exige instrumentos que mapeiem cuidadosamente seus movimentos, que são invisíveis a olho nu.

Não podemos, é claro, medir a turbulência atmosférica que van Gogh retrata em A Noite Estrelada. No entanto, o que uma equipe de cientistas liderada pelo físico Yinxiang Ma, da Universidade de Xiamen, pôde fazer foi medir as pinceladas para ver se elas coincidiam com estudos anteriores, que determinaram que a turbulência exibida na pintura é consistente com a teoria publicada pelo matemático soviético Andrey Kolmogorov na década de 1940.

“Em contraste com estudos anteriores que examinaram apenas parte da pintura, todos e somente os redemoinhos/vórtices presentes na obra são levados em consideração neste trabalho, seguindo a descrição em cascata de Richardson-Kolmogorov sobre a turbulência”, escrevem os pesquisadores em seu artigo.

Análise das pinceladas em A Noite Estrelada. (Yinxiang Ma)


"O resultado sugere que Van Gogh fez uma observação muito cuidadosa dos fluxos reais, de modo que não apenas os tamanhos dos redemoinhos/vórtices em A Noite Estrelada, mas também suas distâncias relativas e intensidade seguem a lei física que rege os fluxos turbulentos."

Os pesquisadores usaram uma imagem digital em alta resolução da obra para examinar as pinceladas em 14 redemoinhos e vórtices no céu representado na pintura, como um rastreador da turbulência atmosférica, semelhante ao movimento de folhas em um redemoinho de outono.

Para cada uma dessas pinceladas, eles examinaram cuidadosamente as propriedades espaciais, bem como a luminância da tinta, comparando-a com a teoria da turbulência de Kolmogorov, que descreve como a energia flui constantemente de redemoinhos maiores para menores antes de se dissipar.

Eles descobriram que os redemoinhos na pintura atendem aos requisitos da lei de escala da turbulência de Kolmogorov, o que já havia sido constatado por pesquisadores anteriores.

Ao analisar as menores escalas das pinceladas, a equipe descobriu que a pintura também era consistente com o espectro de potência de escalas definido pelo matemático australiano George Batchelor em 1959. Ele descobriu que os componentes escalados na turbulência – ou seja, redemoinhos de diferentes tamanhos – devem exibir um espectro de potência correspondente ao seu tamanho.

Um estudo anterior também descobriu que a turbulência revelada em A Noite Estrelada poderia ser vista nas nuvens moleculares no espaço, onde as estrelas nascem. O novo estudo confirma que o entendimento intuitivo do artista sobre a física da natureza pode ter sido ainda mais profundo do que imaginávamos.

"Vincent van Gogh, como um dos mais notáveis pintores pós-impressionistas, fez uma observação muito cuidadosa dos fluxos turbulentos: ele foi capaz de reproduzir não apenas o tamanho dos redemoinhos/vórtices, mas também sua distância relativa e intensidade em sua pintura", escrevem os pesquisadores.

Pesquisas experimentais futuras sobre a pintura de fluxos turbulentos poderiam nos ajudar a entender como o artista conseguiu capturar a turbulência, não apenas na representação do céu, mas também no ato físico de pintar.

Originalmente publicado em Science Alert

O estudo foi publicado em Physics of Fluids.

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